O cenário de negócios é volátil, incerto, ambíguo e complexo. A empresa do século 21 tem que estar constantemente se reinventando. Deve ser uma empresa cinética
RESUMO DO ARTIGO DE CEZAR TAURION*
Um tema que todos falam é Transformação Digital. Muitos artigos apontam como serão as empresas no futuro. Mas, o futuro não chega pronto e subitamente. Ele é construído passo a passo. Primeiro aparecem sinais esparsos e aparentemente desconectados de tecnologias e mudanças sociais. Sem uma visão de contexto, não conseguimos correlacionar um ponto com outro. Só depois de algum tempo é que observamos que eles formam um padrão e que a transformação é fruto da convergência de diversas tecnologias. Portanto, olhar tecnologias como Inteligência Artificial, cloud, mobilidade, Internet das Coisas, robótica, Realidade Virtual/Realidade Aumentada, drones, etc de forma isolada não vai nos dizer muita coisa. A combinação delas é que irá provocar as mudanças.
O grande desafio para as empresas e seus líderes é que estão tão concentrados nos seus desafios diários, que não prestam atenção aos sinais de mudança. E então são surpreendidos. Icônico deste cenário é a BlackBerry. A história de sua decadência é um case, até comum, de como uma empresa bem sucedida não presta atenção aos sinais de mudança. O seu CEO e fundador só soube do iPhone quando assistiu, em casa, a uma propaganda na TV! O artigo "Inside the fall of BlackBerry: How the smartphone inventor failed to adapt" deve ser lido atentamente. Muitas outras empesas fazem o mesmo. Não seja uma nova BlackBerry!
A evolução tecnológica é exponencial e nossos pensamentos lineares limitam a nossa intuição do futuro. Por exemplo, veículos autônomos. Os sensores LIDAR, que o Google usava em 2009, custavam mais de 75 mil dólares. Hoje estão em torno de 7,5 mil dólares, ou 10% do que custava há pouco mais de sete anos! Que isso significa? Que tecnologias que são consideradas caras hoje, em poucos anos estarão bem baratas e possibilitando lançar produtos e serviços inovadores no mercado.
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Nosso modelo mental, linear, e fortemente influenciado pela sociedade industrial, assim como nossa formação acadêmica, nossos modelos e estruturas organizacionais, nossa legislação trabalhista, etc., impõem o conceito de que o futuro é algo que simplesmente acontece, enquanto, na verdade, nós é que o criamos. A reação contra mudanças é muito forte e a crença que o que deu certo por mais de 30 ou 40 anos, continuará dando certo, apenas com pequenos ajustes e melhorias, não funciona em um cenário de mudanças exponenciais. Funcionou na sociedade analógica e linear. Mas, não mais na sociedade digital. Estamos, pela primeira vez, nos defrontando com mudanças fundamentais acontecendo durante uma única geração. Isso é algo novo, com o qual ainda não sabemos como lidar.
O iPhone surgiu há dez anos (em 9 de janeiro de 2007) e hoje temos negócios inimagináveis em 2007, provocado pelo simples fato de termos a Internet no nosso bolso. Surgiram negócios como Uber, Waze, Instagram, Airbnb. Industrias sólidas desapareceram ou estão perdendo relevância. A empresa estática, criada para a sociedade industrial do século 20, não sobreviverá no século 21. O cenário de negócios é volátil, incerto, ambíguo e complexo. A empresa do século 21 tem que estar constantemente se reinventando. Deve ser uma empresa cinética.
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A empresa cinética é que todo trabalho é focado na sua reinvenção contínua. É uma empresa ágil de ponta a ponta, em constante movimento.
Olhar para o futuro e começar a construí-lo não é um exercício acadêmico. É questão de sobrevivência empresarial. Por exemplo, se a empresa atua hoje no que chamamos setor de saúde, ficar por fora de tecnologias como IoT, IA, biomedicina, etc, e não considerá-las em suas visões de futuro é colocar sua sobrevivência em risco.
A mudança acontece apenas quando o próprio CEO se engaja. Por outro lado, o CIO pode e deve assumir papel importante neste processo. Se ficar concentrado apenas no dia a dia, vai perder sua relevância. Tecnologia está se disseminando pela organização e muitas funções hoje executadas pelo tradicional setor de TI irão ser feitas de outra forma. E muito provavelmente, fora da atual TI. Um exemplo de obstáculo que muitas áreas de TI provocam nas suas empresas: não usam métodos ágeis. Ora, uma empresa cinética é ágil por natureza, e se a TI bloqueia esta agilidade com processos e métodos lentos, torna-se um bloqueador e não agregador de valor.
Para fazer a transformação digital é essencial compreender sua essência. Uma verdadeira transformação é uma reinvenção do modelo organizacional (e não o simples deslocar de caixinhas), processos digitais e muito mais ágeis, e uso intenso do conceito de digitalização. A digitalização provoca a desmaterialização, que leva à desmonetização, que potencializa a democratização de uso. O smartphone é um exemplo clássico, pois desmaterializou diversos equipamentos físicos como CDs, gravadores, GPS, câmeras fotográficas, filmadoras, etc, que estão agora embutidos em um único dispositivo, o próprio smartphone. A desmateralização barateou o custo (somem o valor de todos esses equipamentos anteriormente comprados à parte) e democratizou o uso. Comparem o antigo, caro e lento processo de fotografia analógica, com o de hoje, quando vocês tiram milhares de fotos e postam em suas redes sociais, aplicando filtros muito sofisticados, de forma totalmente gratuita. A consequência? Disrupção.
O digital é o futuro dos negócios. E dado que a sobrevivência empresarial importa imensamente para as organizações, tudo o que sua empresa fará será impactado pela mudança para o digital. A transformação digital é, gostemos ou não, a nova regra do jogo. E, para ganhar, temos que jogar este jogo. Não temos alternativas.
Já em 2011, o artigo de Marc Andreessen, "Why Software Is Eating The World" mostrava claramente esse cenário. Hoje podemos inserir um adendo dizendo que "Software will Be Eating Your Back Office" porque em breve não terá mais sentido manter custosos back offices analógicos.
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Neste cenário de negócios líquido e em constante transformação, a classificação de empresas de acordo com seu ritmo de adoção de inovações, usada atualmente, que vai de "inovadoras" em um extremo a retardatárias em outro, perde o significado. Uma empresa retardatária terá um ônus tão grande em perda de receitas, clientes e custos maiores, que simplesmente será expelida do mercado.
O novo jogo não perdoa empresas lentas. A frase de Klaus Schwab, charmain do World Economic Forum é emblemática: "Neste novo mundo não é o peixe grande que come o peixe pequeno. É o peixe rápido que come o peixe lento".
Leia este artigo completo no site da CIO: Não seja uma nova blackberry
(*) Cezar Taurion é head de Digital Transformation da Kick Ventures e autor de nove livros sobre Transformação Digital, Inovação, Open Source, Cloud Computing e Big Data