Os temas de IoT, Big Data e aprendizagem de máquina, ganharam "relevância" no programa de empreendedorismo, avança Luís Calado, responsável da Microsoft Portugal.
O "próximo desafio" da Microsoft Portugal no programa Ativar Portugal é incorporar nele mais startups e parceiros de outros países , revela Luís Calado, responsável do fabricante pela gestão da relação com essas micro-empresas
O executivo acredita que a comunidade portuguesa e ambiente associado têm "todos os ingredientes para criar um ecossistema que seja um exemplo mundial". Uma opinião que contrasta com a de outros responsáveis e agentes.
Computerworld ‒ Quais as linhas estratégicas da nova fase do Ativar, centrada na internacionalização?
Luís Calado ‒ Nesta nova geração do programa mantemos a aposta nos quatro pilares que no foram transmitidos pelas próprias startups nacionais como críticos ao seu crescimento: ferramentas, pessoas, visibilidade e negócios. Mas foca-mo-nos agora nestes vectores do programa no tópico da internacionalização, fundamental para o sucesso das startups - em Portugal e em qualquer parte do mundo. Pretendemos :
‒ trabalhar com os nossos parceiros e capitais de risco para ajudarem as startups a preparem-se para entrar em mercados internacionais;
‒ utilizar a nossa presença global e a Microsoft Ventures para promover as startups portuguesas internacionalmente;
‒ criar relações com investidores internacionais e trazer para o programa, startups internacionais que também procuram expandir e/ou desenvolver o seu negócio em Portugal.
CW ‒ No seu ponto de vista quais são os resultados mais interessantes das startups portuguesas com a vossa rede de parceiros e clientes?
LC ‒ A forma como medimos os resultados está relacionada, acima de tudo, com um ponto: crescimento. O crescimento do ecossistema empreendedor nacional como um todo, e o crescimento das startups que fazem parte da iniciativa Ativar Portugal.
Isto é também possível avaliar na facilidade com que algumas destas startups conseguem fazer vendas e/ou criar parcerias que as ajudem a distribuir os seus produtos, um ponto particular que trabalhamos na dinâmica de "Business Speed Dating". Por outro lado, existe também um benefício para a nossa rede de parceiros e clientes que é exposta a esta inovação, tornando-se mais competitivos.
CW ‒ Que lições interessa reter do primeiro ano do programa, em geral, e numa perspectiva mais particular sobre a interação na rede?
LC ‒ Em primeiro lugar, é importante reforçar que o feedback que obtemos das startups e dos parceiros que fazem parte da iniciativa é excelente. Tornou-se muito mais complicado escolher quais as startups que se deviam juntar à iniciativa porque existem muitas mais que no ano passado.
Neste momento estamos a apoiar, através do nosso programa BizSpark, aproximadamente 300 empresas por ano, e escolher um subconjunto para apoiar de forma mais intensiva está a tornar-se cada vez mais difícil. Mas esta é uma dificuldade boa.
Por outro lado, os nossos clientes e parceiros estão cada vez mais interessados no tema da inovação e empreendedorismo, o que torna o facilitar a interacção na rede um tópico ainda mais importante. O nosso próximo desafio é trazer para a rede parceiros e startups de outros países. Já iniciamos este trabalho e vamos desenvolvê-lo ao longo do ano.
CW ‒ Que tipologia se torna mais evidente no conjunto das mais de 100 empresas apoiadas com o programa?
LC ‒ Do ponto de vista de mercados verticais onde atuam as startups, existe uma distribuição bastante grande na tipologia. No ano passado vimos muitas empresas com foco na componente de mobilidade, mas consideramos que não existe uma área que se destaque em particular.
Este ano notamos que três temas ganharam relevância, pelo menos comparativamente com o ano passado: IoT , Big Data e "machine learning" [ou aprendizagem de máquina]. Há um elevado conjunto soluções móveis e este tipo de empresas continuam a crescer.
Temos de mencionar a qualidade de algumas das startups que apostam fortemente na inovação: por exemplo, na área de IoT, a HealthyRoad que está a iniciar o seu caminho de internacionalização e que disponibiliza soluções incríveis na área de biometria facial; ou a HeartGenetics com o seu sistema de avaliação de risco de doença cardíaca; na componente de Big Data, a Petapilot com a sua solução anti-fraude ou a Performetric com a sua solução "Machine Learning' que consegue detectar padrões de cansaço de um utilizador de forma a que este consiga ser mais produtivo.
Na área móvel estamos muito interessados em acompanhar a Topdox e consideramos que em breve será uma das startups portuguesas que será mais reconhecida internacionalmente.
CW ‒ O que falta nas startups portuguesas, ou no ambiente de negócio e tecnológico envolvente, para aquelas de tornarem scale-ups?
LC ‒ Felizmente, existem já vários indicadores que apontam para um ecossistema português cada vez mais forte. Num estudo recente efetuado pelo SEP (Startup Europe Partnership) em colaboração com a Microsoft, foram já identificadas 40 scale-ups (empresas com investimento superior a 1 milhão de dólares nos últimos cinco anos) existentes no nosso País, com exemplos fantásticos como a Uniplaces, Talkdesk, Veniam ou a Feedzai, entre muitos outros.
Acredito que temos todos os ingredientes para criar um ecossistema que seja um exemplo mundial, e que ficará ainda mais forte quando tivermos mais startups "de peso global" com origem no nosso País, tal como o exemplo da Farfetch.