Nosso blog

Projeto de Glenn Greenwald é luz no fim do túnel

Entenda por que, em tempos de escândalos de espionagem, o novo projeto do jornalista que colocou a segurança digital em debate é tão importante.

Entenda por que, em tempos de escândalos de espionagem, o novo projeto do jornalista que colocou a segurança digital em debate é tão importante.


Foto do jornalista Green Greenwald




Semana passada, foi anunciado que o jornalista Green Greenwald deixou o The Guardian para dedicar-se a um novo empreendimento de mídia financiado pelo fundador do eBay, Pierre Omidyar. O patrocinador disse estar preparado para investir mais de 250 milhões de dólares no novo projeto, que contará também com os experientes jornalistas Laura Poitras e Jeremy Scahill, do semanário norte-americano The Nation.

Uma grande notícia para o jornalismo.

Greenwald, que mora no Brasil e foi o primeiro a revelar informações fornecidas pelo então prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), Edward Snowden, tornou-se mundialmente conhecido com suas reportagens revelando esquemas de vigilância eletrônica arquitetada pelos Estados Unidos. Também foi colaborador do Fantástico, denunciando que a presidente Dilma Rousseff, a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia também foram alvo de espionagem.

Não que se queira desmerecer o trabalho de Greenwald em cima das informações dadas por Snowden, mas sejamos francos que as denúncias não foram surpreendentes. Governos europeus e sul-americanos já sabiam que os Estados Unidos espionavam, assim como a China também tinha consciência de que as agências norte-americanas estavam tentando invadir seu sistema. O WikiLeaks, bem antes da "bombástica" reportagem do The Guardian, já tentava que alguém desse atenção a suas primeiras revelações, e não me parece que alguém se preocupou muito com isso.

É justamente aí que começamos a entender a importância de um empreendimento de mídia como o que está sonhando Omidyar. Como esclareceu o jornalista Henry Farrell em recente artigo no Washington Post intitulado "Why Gleen Greenwald's new media venture is a big deal", a maioria das pessoas confia em instituições como organizações jornalísticas, mas não no WikiLeaks ou em Snowden. Foi preciso que um jornal como o The Guardian apurasse e divulga-se para que as pessoas começassem a prestar atenção nas denúncias. "Jornais bem montados desempenham um papel sociológico fundamental ao decidirem qual a informação que é importante e confiável e qual não é. Quando um desses jornais publica uma informação, ela é legitimada como conhecimento", explica Farrell.

Omidyar está justamente investindo em um veículo independente, centrado no jornalismo investigativo, mas que cobrirá outras áreas com a intenção de atrair o público em geral. Um meio rentável, que conte com especialistas bem pagos e protegidos por uma equipe legal. Ou seja, nada mais do que uma instituição que valide denúncias como as vindas do WikiLeaks ou Snowden.

Se a iniciativa der certo, vamos acompanhar a já existente (e silenciosa) guerra entre a obrigação dos jornais de informar e a obrigação do governo de proteger tomar projeções inéditas.

Empreendimentos como o de Greenwald vão criar conhecimento público sem aderir às velhas regras de como o governo tem voz na decisão sobre o que vai e o que não vai ser publicado. Esta discussão não nos lembra aquela das biografias?

Claro, nem tudo são flores. Gleen Greenwald jogou todos os holofotes em cima da questão da privacidade e, agora, terá como patrão um dos grandes players do e-commerce mundial. Assim como outros grandes gigantes tecnológicos, a eBay dispõe de ferramentas sofisticadíssimas de monitoramento de comportamento de seus consumidores por meio de big data. Se a criticada NSA é responsável por espionagem política que ignora a noção de soberania nacional dos países vigiados, a eBay e outras também são "espiãs", só que a nível individual.

O que não é tão grave por um detalhe: no caso das empresas, elas tem a permissão de seus consumidores, que, ao comprarem seus produtos ou navegarem por suas páginas online, passam a ser rastreadas. Ainda assim, fica um constrangimento no ar.

Ainda tem muito o que se discutir sobre privacidade neste momento em que as manchetes falam tanto sobre espionagem, biografia não-autorizada, vida sexual exposta e compartilhada em redes sociais (caso Fran). O tema é a bola da vez e desenrola uma série de problemáticas. Problemáticas estas que iniciativas como a do empreendimento de Green Greenwald podem servir de soluções positivas.

Marcos Freitas

comments powered by Disqus