Não têm sido tempos fáceis para a indústria musical. A revolução digital levou a grandes reviravoltas no modelo de negócio das grandes editoras e dos grandes artistas e alterou por completo a forma de o público consumir música. Hoje em dia, tudo parece mais calmo e diz-se que os serviços de streaming foram a melhor solução encontrada.
No entanto, não é por isso que deixam de ser também postos em causa: são vários os artistas que se vão mostrando contra este tipo de plataformas, chegando mesmo a não permitir que a sua música possa ser ouvida de graça. Como dois exemplos recentes deste tipo de situações temos Taylor Swift, que retirou recentemente toda a sua discografia do Spotify, incluindo o último álbum, 1989; ou Bjork, que se recusou a ter o seu mais recente álbum - Vulnicura - em streaming na mesma plataforma.
Agora, são as grandes editoras discográficas que se mostram céticas em relação ao modelo de negócio destes serviços.
Segundo o Financial Times, a Universal Music Group, a maior editora do mundo, está em conversações com o Spotify para que este imponha limites mais duros a todos os usuários que não assinarem um serviço pago. Para eles, o dinheiro gerado pela publicidade não é suficiente para sustentar toda a indústria, sendo que é urgente aumentar o número de usuários dos serviços premium. Também outras editoras têm feito pressão com o objectivo de aumentar a diferenciação entre os modelos gratuitos e as assinaturas pagas.
A tranquilizar todos os usuários está o próprio Spotify, que se opõe a abrir qualquer exceção e a alterar o seu serviço gratuito, afirmando que todo o conteúdo que não estiver disponível gratuitamente acabará em sites de pirataria. Para o Spotify, ganhar usuários através dos serviços gratuitos é a chave para aumentar os subscritores pagos.
Resta saber como serão fechadas as negociações entre as várias editoras discográficas e o Spotify e qual será a reação dos artistas ao longo do tempo. Numa indústria que está constantemente a sofrer alterações, o modelo de negócio mais benéfico para o público, artistas e as suas editoras ainda está longe de ser encontrado.
EM PORTUGAL
Não há música dos AC/DC nem de Thom Yorke, dos Radiohead, no Spotify, pela mesma razão que levou Taylor Swift a retirar a discografia do serviço (e a mudar-se para o serviço de Jay-Z, o Tidal): consideram que o streaming gratuito não compensa. O Spotify tem 60 milhões de usuários e destes 15 milhões são pagantes, mas as vendas de música estão a cair e existe o receio de que o modelo gratuito arruíne o futuro da indústria. É possível que a empresa seja obrigada a limitar o grátis? Fontes citadas pelo Financial Times dizem que sim, que é isso que a Universal Music pretende na renegociação do contrato com o Spotify para 2016. Em Portugal, a editora considera que os usuários vão passar mesmo a pagar para ter acesso aos catálogos.
"O modelo-base do Spotify sempre assentou na lógica de captação de usuários transitando-os para as tarifas pagas e até à data isso tem funcionado à escala global", afirma ao DN a digital manager da Universal Music Portugal, Carmen Parada. O sistema baseado em publicidade "não é economicamente viável", diz, mas está a tirar os dos sites de partilha ilegal, o que é positivo. "No entanto, acreditamos que o futuro dos serviços de streaming passará apenas pelo formato premium", revela.
O problema do Spotify é que oferece um on demand gratuito, isto é, a pessoa pode escolher o que quer ouvir bastando suportar alguma publicidade. Já não tem limites de tempo e se estiver a usar um celular a única diferença é que as músicas tocam em shuffle. "Este modelo gratuito sem dúvida que é apelativo para os fãs, mas acaba por desvalorizar o trabalho de todos os envolvidos no lançamento de qualquer conteúdo", diz ao DN Marco Oliveira, diretor técnico da Baboom - empresa de streaming criada pelo hacker Kim DotCom que está a ser desenvolvida no Porto.