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Digital Music Experience

Conheça os melhores momentos do debate

Frejat: 'Para o artista, o streaming ainda não é um bom negócio'

Músico participou de debate sobre a monetização do serviço e pediu melhor remuneração

RIO - Em debate promovido pelo Digital Music Experience, evento que acontece nesta terça e quarta no Village Mall, o cantor e compositor Frejat defendeu uma maior valorização dos autores na partilha dos ganhos com a reprodução de músicas pelas plataformas de streaming.


Foto de Frejat no DMX


Marcelo Castello Branco, Evandro Fióti, Scott Cohen e Marcos Chomen participam de debateDMX: streaming, direitos autorais e ProCultura esquentam debates
O produtor musical Marco MazzolaDMX promove debates sobre o futuro da música digital no Rio
- Com os contratos que temos hoje, o fonograma (artista e gravadora) leva cerca de 51% dos rendimentos, e o autoral, que é a parte do compositor, fica com algo entre 8 e 10%. Só que, hoje, o músico já chega com a canção pronta e a apresenta para a gravadora. Ou seja, a gravadora deixou de ter importância como estúdio - afirmou Frejat. - Para o artista, o streaming ainda não é um bom negócio, e a culpa não é das plataformas.

No debate sobre a monetização do streaming e o futuro dos serviços, que contou ainda com Paulo Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Disco (ABPD), Claudio Vargas, vice-presidente de novos negócios e digital da Sony Music, e Henrique Fares Leite, diretor do Deezer, o vocalista e guitarrista do Barão Vermelho também aproveitou seu tempo para propor novos formatos de distribuição dos royalties.

- Vamos dizer que o assinante pague R$ 10 mensais pelo serviço. Mas, naquele mês, ele ouviu Roberto Carlos na metade do tempo em que usou a plataforma. Logo, R$ 5 deveriam ir para o Roberto. Só que esses dados acabam indo para o número total de reproduções, passa por um algoritmo deles, e o músico acaba recebendo uma fração ínfima - disse Frejat, que classificou como "muquiranas" aqueles que acham caro o valor mensal médio, de R$ 16, cobrado pelos serviços de streaming por assinatura.

Em sua explanação, Paulo Rosa deu uma dimensão real do dinheiro movimentado pelo streaming no Brasil: um mercado que acumula cerca de 60 milhões de assinantes em todo o mundo. Segundo o presidente da ABPD, entre janeiro e setembro de 2015, as quatro principais gravadoras do país arrecadaram, juntas, cerca de R$ 100 milhões com as plataformas. Destes, R$ 54 milhões vieram das assinaturas (com um aumento considerável em relação ao mesmo período do ano anterior, que tinha acumulado R$ 31 milhões) e R$ 46 milhões de publicidade.

- Nós temos uma lista aqui dos 200 artistas mais tocados nas quatro principais plataformas. Eles geram cerca de 160 milhões de reproduções mensais. Num ano, podem chegar a 2 milhões. Aí você divide isso tudo por esses R$ 150 milhões com que devemos fechar o ano... O negócio do streaming é altamente pulverizado - afirmou Paulo. - Um artista que vá olhar o mercado individualmente, considerando apenas uma reprodução, vai arrecadar algo na casa dos centavos.

O discurso foi reforçado pelo próprio representante da Deezer, Henrique Fares Leite:

- O valor total gasto em streaming ainda é pequeno. É ínfimo dentro da cadeia de arrecadação total do artista. Pouco representativo mesmo. Mas acredito que é a grande oportunidade do momento. O futuro está em aberto e daqui a dez anos podemos nem estar falando mais disso. Mas, em termos de presente, o streaming é a melhor saída no combate à pirataria e na defesa da qualidade do som.


DMX: streaming, direitos autorais e ProCultura esquentam debates

Evento para discutir presente e futuro da música digital no país terminou quarta-feira

MARCOS HERMES
Foto com Evandro Fióti, irmão e empresário de Emicida


RIO - O streaming voltou a ser o tema central do segundo e último dia de Digital Music Experience, evento criado pelo produtor e ex-executivo da indústria musical Marco Mazzola para debater a música digital no Brasil e no mundo. Em dois dos painéis mais aguardados do evento, tópicos como monetização, divisão de direitos autorais e análise de resultados foram levantados por produtores, artistas, empresários e executivos do meio.

Em "Novos caminhos para a indústria fonográfica", debate final mediado pelo executivo da indústria fonográfica Marcelo Castello Branco, que contou ainda com a participação de Evandro Fióti (irmão e empresário de Emicida) e Marcos Chomen (representante da distribuidora CDBaby na América Latina), quem roubou a cena foi o americano Scott Cohen, cofundador da Orchard, primeira companhia do mundo a apostar na distribuição de música digital, em 1997 - hoje, a empresa conta com escritórios em mais de 20 países.

Frejat foi o convidado da DMX nesta terça-feiraFrejat: 'Para o artista, o streaming ainda não é um bom negócio'
O produtor musical Marco MazzolaDMX promove debates sobre o futuro da música digital no Rio
- O desafio atual não é mais vender algo, é ter a atenção de alguém por três minutos. A música, hoje, é uma grande batalha pela atenção. E quem trabalha nessa indústria precisa começar a criar conteúdo pensando nisso - disse Cohen.

Em um momento mais polêmico do painel, o executivo, que costuma rodar o mundo ministrando palestras sobre novos modelos de negócio, opinou sobre artistas que procuram a mídia para falar sobre os ganhos com o streaming:

- Tem uma parte de mim que odeia isso, porque, em 99% dos casos, eles não têm ideia do que estão falando. Quem fala dos ganhos com o Spotify por reprodução, por exemplo, está completamente errado. Artistas têm problemas com grandes números. No Spotify, com menos de 1 milhão de reproduções, você não é ninguém. Não quer dizer nada. Mas, se você consegue chegar lá, o streaming é o melhor dos negócios.

Diante do susto causado nos espectadores, Cohen, que chamou atenção pelo humor irônico e pela boa oralidade, tentou dar um panorama um pouco mais positivo do mercado.

- Tem muito dinheiro na internet se você for inteligente. Agora, não tem dinheiro a se ganhar se você pensar apenas no ciclo antigo, o de gravar um disco, mandar para a mídia, aparecer na televisão, sair em turnê e só - afirmou o americano. - Artistas e produtores precisam entender que o que vende, hoje, é o raro, o exclusivo, e, acima de tudo, a experiência. O consumidor é o cerne da questão, mais do que nunca. Ele nunca teve tanta opção como hoje.

O discurso forte de Cohen dialogou com o de Marcelo Falcão, presidente da União Brasileira de Editoras de Música (Ubem), que participou do painel "Novos modelos de arrecadação de direitos autorais que estão sendo discutidos no mundo", o segundo desta quarta-feira.

- O streaming vai ser lucrativo? Ninguém sabe. A distribuição é pulverizada? É. Os autores reclamam do quanto ganham, mas ainda estamos engatinhando nessa questão. Por exemplo, tem gente que defende a distribuição em cima do que o usuário escutou no mês, mas não há sistema possível, no momento, que consiga fazer isso - disse Falcão, quase como uma resposta ao cantor e compositor Frejat que, no dia anterior, tinha citado o modelo como o mais justo para os artistas.

Também participante do segundo debate, Glória Braga, superintendente executiva do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), revelou que apenas uma faixa entre 6% e 7% veio do meio digital. A expectativa para 2016 é de 18 ou 20% de crescimento.

Glória reforçou a questão da pulverização dos ganhos arrecadados pelos artistas nos serviços de streaming:

- A tendência mundial é que os valores pagos, quando confrontados pela quantidade enorme de músicas ouvidas nessas plataformas, se tornem "amonetários" - disse Glória. - É o começo da história e o momento de aprender, mas o impacto dessas primeiras distribuições decorrentes das execuções digitais me preocupa. Alguns autores vão ganhar menos de um centavo por música.

'STREAMING TAMBÉM É CONSIDERADO EXECUÇÃO PÚBLICA'

Ainda no debate sobre a arrecadação de direitos autorais, a polêmica sobre a configuração, ou não, da reprodução por streaming enquanto execução pública voltou à tona.

Ao longo do ano, disputas judiciais envolvendo o Ecad e provedores de serviços de serviço de streaming aqueceram a discussão. O Escritório quer fazer parte do bolo da divisão pulverizada de lucros com os novos serviços, mas o argumento das companhias é que, uma vez que o usuário tem o direito de escolher a música que quer ouvir, aquela reprodução se torna restrita, num processo conhecido como webcasting. Em fevereiro de 2015, por exemplo, a Justiça do Rio deu ganho de causa à rede social Myspace em uma ação promovida pelo Ecad e considerou que o streaming não configura execução pública.

- O curioso é que as sociedades de autores do mundo inteiro arrecadam os direitos de execução pública dos serviços de streaming - analisou Marisa Gandelman, diretora executiva da União Brasileira dos Compositores (UBC). - Esses novos serviços provocam uma mistura difícil e desnecessária nos direitos que nós conhecemos no mundo tradicional.

Nesse sentido, a declaração mais assertiva foi a de Marcos Souza, diretor de direitos intelectuais do Ministério da Cultura:

- Quando iniciamos esse trabalho, estávamos convencidos de que o streaming não envolvia execução pública. Hoje, estamos convencidos do contrário. É um fenômeno complexo, já que não há apenas um direito envolvido. Mas o Ministério entende que, sim, o streaming é uma das modalidades que se encaixam no conceito de execução pública.

PROCULTURA E OS GARGALOS DA LEI ROUANET

Outro representante do Ministério da Cultura a participar do segundo dia de debates do Digital Music Experience foi Carlos Paiva, secretário de fomento à Cultura. No primeiro painel desta quarta, ele reforçou a ideia de que o Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (ProCultura) é o plano ideal para consertar os gargalos da Lei Rouanet.

- Recolhemos alguns dados preocupantes. Por exemplo, entre 1991, quando a Rouanet entrou em vigor, e 2004, as regiões Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste, somadas, captaram o que o Sudeste conseguiu só em 2014. No ano passado, apenas 6% do total captado foi destinado a programas culturais no Norte e Nordeste - citou Paiva. - O incentivo por natureza é o mecanismo mais centralizador, mas esses dados apontam um nível de concentração acima do que poderia ser considerado natural.

Por outro lado, o ProCultura, segundo Paiva, prevê a regionalização dos recursos, destinando, no mínimo, 10% do Fundo Nacional de Cultura (FNC) para cada região. Os 50% restantes serão destinados para fundos estaduais e municipais. Atualmente, o Projeto de Lei que contempla o ProCultura está em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado e a expectativa do Minc é que a iniciativa seja sancionada pela Presidência em 2016.

- O incentivo como está hoje não contempla nem o Sudeste em sua totalidade. O estado do Espírito Santo, por exemplo, não chega a !% da captação do Rio e de São Paulo. E o interior desses estados também não vê esse dinheiro. O ProCultura surge como opção para dar aos estados e municípios o poder de incentivar a cultura local.



Luccas Oliveira

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